Quando se pensa nas relações do homem com o meio em que vive, de imediato vem a mente a dicotomia entre fazer o que bem se pensa ou ficar condicionado pelas regras que ordenam a vida sociocultural. À primeira vista, estas duas alternativas parecem ser excludentes: ou se é livre ou se é escravo do meio. Contudo, não parece que seja a única maneira de encarar o problema.
Se pensarmos a liberdade como forma de manifestação sem nenhum tipo de obstáculo externo, seu pleno exercício implicaria matar Deus, matar os pais, livrar-se dos filhos, dos professores, dos vizinhos, dos chefes, de todos os patrões e de qualquer um ou coisa que ousasse a se interpor entre o querer fazer alguma coisa e o fale-lo de fato.
Este sonho de liberdade sem empecilhos ou constrangimentos não leva em consideração a verdadeira realidade do ser humano: ele é um ser físico (submete-se a leis da física); biológico (precisa comer dormir etc.); psicológico (tem emoções que não pode evitar: medo, alegria etc.); e é, também, um ser social ( precisa dos outros para sobreviver e desenvolver suas potencialidades). Sendo assim, quando se pensa seriamente sobre a liberdade humana deve-se sempre levar em consideração que se trata da liberdade humana não da liberdade de anjos.
A busca da liberdade deve começar pela tomada de consciência da condição humana, do papel na sociedade, dos verdadeiros ideais de vida, localizando os perigos do modismo. O modismo pode ser uma tremenda armadilha contra a liberdade, pois acaba por impedir a capacidade de pensar por conta própria. Também é preciso saber detectar os controles ideológicos que procuram induzir as pessoas a pensar e a agir de modo a satisfazer os interesses de grupos políticos ou econômicos.
A rejeição aos controles inibidores da liberdade não se implica a eliminação de toda e qualquer forma de controle social ou de autoridade em geral. Imagine-se, por exemplo, o caso de uma greve da polícia na cidade do Rio de Janeiro, a agressividade natural do ser humano assumiria varias formas de violência: multiplicação de assaltos, disseminação da violência física, o desrespeito contra a propriedade etc. E, com isso, o caos social se instalaria. Dar-se-iam chances para o retorno àquele estado que Thomas Hobbes chamou de “estado natural”, no qual todo tipo de violência seria permitido e o homem tornar-se-ia “lobo do homem”, entrando numa “guerra de todos contra todos”.
Um fato histórico famoso é um bom indicador desta possibilidade. Durante a II Grande Guerra, entre 1940 e 1944, vigorou, na França, o chamado “regime de Vichy”. Assim foi chamado o governo do marechal Pétain, que se instalou depois da rendição da França á Alemanha nazista. Quando o governo de Vichy caiu, sem que as autoridades do novo regime tivessem assumido o poder, viveu-se um período de verdadeiro caos social, que alguns historiadores referem como “uma temporada no inferno”. Neste período, praticaram-se crimes de todas espécie: morticínios, expurgos, assaltos e roubos, numa verdadeira onda de terror passional.
Há, ainda, um outro caso adequado a discussão sobre a questão da necessidade da autoridade e das regras sociais: em 1968, também na França, alguns jornais franceses flagraram o agitador e líder estudantil Cohn Bendit enquanto, desejoso de viajar, esbravejava contra os funcionários grevistas da estrada de ferro que, naquele momento, estavam fazendo aquilo que ele sempre pregou, ou seja, estavam contestando o sistema.
Parece obvio que a autoridade seja necessária para que a vida em sociedade seja possível e para que o individuo encontre alguma forma de orientação para a sua existência. Segundo o escritor alemão Goethe: “Um grande homem é um homem ao pé de quem a gente se sente maior”. Esta frase pode ser aplicada ao principio da autoridade em geral: quando esta é exercida de maneira adequada traz segurança e maior sensação de liberdade. Mas quando isso não ocorre, seria o caso de lutar pela implantação de uma sociedade sem autoridade alguma e sem regras (anomia)?
Para concluir, parece oportuno lembrar Freud, para quem “é melhor ter um mau pai do que nenhum pai”. Em suma, uma liberdade na flutuação do vazio, sem nenhuma resistência, como que em estado de gravitação, seria vazia e vã. “Uma liberdade de ausência não passaria de uma ausência de liberdade” (G. Gusdorf).
Creditos a Severo Hryniewicz.
Creditos a Severo Hryniewicz.

seu título ja sugere 2 temas pra se voar bem alto, nos fazendo pensar tambem, a que ponto a autoridade de uns limita a liberdade de outros, e que é possível nossa própria autoridade limitar nossa liberdade, como é louco isso né? adorei o texto, abraço brother
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